Atualmente em pedagogia um dos temas mais enfatizados e estudados são os relativos ao currículo. O conceito de currículo permite que se compreenda as decisões educativas, pois um currículo, por exemplo, se debruça a responder às indagações: o que ensinar, como ensinar e por que ensinar.
A professora e pesquisadora Noeli Rivas complementa dizendo que o currículo também se responsabiliza pela seleção do conhecimento (conteúdos, matérias, disciplinas e sua integração), além da forma e meios pelos quais esse conhecimento será desenvolvido (metodologia e didática) e, por fim, o acompanhamento dos resultados desse processo (avaliação).
Nessa esteira, Sacristán, um dos mais respeitados estudiosos sobre a temática, em seu livro “O currículo: uma reflexão sobre a prática”, diz que “o termo currículo provém da palavra latina currere, que se refere à carreira, a um percurso que deve ser realizado e, por derivação, a sua representação ou apresentação. A escolaridade é um percurso para alunos/as, e o currículo é seu recheio, seu conteúdo, o guia de seu progresso pela escolaridade”.
Em síntese, posso diz que currículo, comprometido com o legado histórico, social e o saber cultural, refere-se ao conhecimento selecionado e organizado para ser desenvolvido em meio aos processos educacionais.
Expresso na forma de projeto político-pedagógico, objetiva prever o planejamento do ensino-aprendizagem e o dinamismo dos componentes curriculares, em prol do perfil do egresso desejado (do aluno que se quer formar).
Essa reflexão sintética sobre currículo é de suma importância para a seqüência de crônicas pedagógicas que escreverei, procurando explicitar um exemplo de currículo para o ensino do futebol, no seu processo de iniciação.
Currículo este que deve servir de base para o trabalho educacional desenvolvido nas escolinhas de futebol. Pois, qual é o objetivo de uma escolinha de futebol?
Seria formar jogadores de futebol? Seria selecionar jogadores para o futebol profissional? Lapidar talentos? Servir como espaço de recreação? Ou mesmo de alienação e enganação de crianças sonhadoras e desejosas em se tornar milionários jogadores de futebol?
Para qualquer das perguntas acima a resposta deve ser negativa. Principalmente quando se fala em escolinhas, está se referindo a um local de ensino, mesmo que este ensino se caracterize como informal.
Escola de futebol é campo de trabalho para pedagogos do esporte. Profissionais que devem ter sólidos conhecimentos pedagógicos, adquiridos em cursos de licenciatura em Educação Física, além de aprofundados saberes sobre esportes, obtidos nos bacharelados em ciências do esporte.
Como bem ressalta o professor João Batista Freire no livro “Pedagogia do futebol”, uma escola de futebol deve ter seu currículo pautado em quatro princípios pedagógicos: ensinar futebol a todos; ensinar mais que futebol a todos; ensinar mais que futebol a todos; ensinar a gostar de futebol (esportes).
Comprometidos com a inclusão, a competência pedagógica, a ética e o prazer, esses princípios delineiam os objetivos e servem de alicerce para o desenvolvimento de coerentes condutas pedagógicas. Ou seja, as intervenções realizadas pelos professores de futebol devem a todo o momento refletirem os princípios. Suas ações (condutas) permitem que os princípios se materializem.
Com essas proposições preliminares postas, cabe agora ao estabelecimento do currículo determinar o referencial teórico que ditará os parâmetros metodológicos de ensino, os quais concomitantemente guiam as ações didáticas.
Particularmente, para o currículo que estou propondo, as teorias que o inspiram (o sustentam) são as diretamente relacionadas às teorias do conhecimento interacionistas.
As teorias interacionistas partem do princípio de que o conhecimento é construído por meio de interações; logo, a grande busca é pela compreensão dos padrões organizacionais sistêmicos que se estabelecem em meio às interações do ser com meio (ambiente/social) e com outros seres histórico-sociais na construção do conhecimento.
Para tanto, valho-me da teoria do jogo, da teoria sistêmica, da teoria da complexidade, da teoria do desenvolvimento ecológico, entre muitas outras teorias propostas especificamente na área da pedagogia do esporte (as quais caracterizam o que denomino novas tendências em pedagogia do esporte) que emergem do novo paradigma em ciência, opondo-se todas ao modo de pensar racional e mecanicista, originárias das idéias positivistas e do empirismo.
Advinda da confluência dessas teorias, a tese da pedagogia da rua defendida pelo professor João Batista Freire se perfaz a principal influência no estabelecimento das diretrizes metodológicas e didáticas deste currículo.
A pedagogia da rua parte do pressuposto de que podemos construir todo um processo de iniciação inspirado na cultura lúdica brasileira. Cultura esta que formou “naturalmente” toda uma geração de craques (inteligentes jogadores de futebol), por meio dos jogos populares que englobam, entre outras estirpes, a família dos jogos de bolas com os pés.
Jogadores estes que exprimiam em sua forma de jogar as características do futebol arte, servem de bom exemplo do sucesso e excelência pedagógica de um currículo que conseguiu impingir o perfil desejado a todos os que passaram pelo seu processo.
Portanto, nosso currículo (Projeto Político-pedagógico) partirá do mote de que para se ensinar o jogo futebol (nas suas dimensões conceituais – saber o que é -, procedimentais – saber fazer - e atitudinais – saber ser) só será possível se for à forma de